Friday, June 29, 2007

pacto com o diabo. Entrevista a Newsletter UP


Paulo Ferreira da Cunha é professor catedrático da Faculdade de Direito da U.Porto. Recentemente passou a fazer parte do Conselho da Associação Internacional de Direito Constitucional. Também há pouco tempo, o seu livro "Direito Constitucional Geral. Uma Perspectiva Luso-Brasileira", um dos quase 70 que escreveu, passou a ser o segundo nomeado pela Câmara Brasileira do Livro para Melhor Livro de Direito. Licenciado em Direito, por Coimbra, doutorou-se depois em Paris (Paris II). Chegou a ser docente em Sociologia, na Faculdade de Letras da U.Porto, e em Direito, na Universidade do Minho, antes de integrar o corpo docente da Faculdade de Direito da U.Porto. Como o químico Kekulé, diz que trabalha até a dormir e, com ironia, afirma que até há quem diga que tem pacto com o diabo.
De que mais gosta na Universidade do Porto?
A U.Porto é a Universidade da minha Cidade. Isto de ter nascido e vivido no Porto dá uma particular empatia com a U.Porto, até pela sua história. Tenho ainda a memória (até familiar) da U.Porto, da U.Porto de Leonardo Coimbra, e que formou homens livres como Agostinho da Silva. E por isso o poder ditatorial fechou a sua primeira Faculdade de Letras e nunca permitiu que abrisse a Faculdade de Direito. Sou Doutorado por Coimbra e por Paris, mas tenho muito orgulho em ter sido aluno da U.Porto. Além do mais, a U.Porto não é só história: tem um projecto de afirmação, nacional e internacional. Está em movimento.
De que menos gosta na Universidade do Porto?
Não é algo de exclusivo da U.Porto, que ainda é um espaço de liberdade. Espero que resistamos à tendência para subverter a hierarquia académica (que deve ser a do saber, consubstanciado nos graus: que não podem perder sentido), e tornar as universidades muito dependentes da burocracia e de entidades externas. O fim da Universidade é a criação, difusão e avaliação do saber. Tudo o resto é instrumental e deve ser subsidiário. É um paradoxo querer universidades activas e dinâmicas (até passando a adoptar modelos, como as fundações, próprios de sociedades mais empreendedoras) e ao mesmo tempo enredar os docentes em infindáveis papeladas e obrigações não pedagógicas nem científicas: as aulas e o estudo acabam por ficar prejudicados. O economicismo (não a Economia) mata a ciência. E o mesmo se diga da burocracia, do basismo e do populismo. Mas nós vamos aproveitar os ventos bons, e evitar os maus.
Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Para a minha Faculdade, a criação de um curso nocturno de Direito. Em geral: alargamento do "numerus clausus" para estudantes já com licenciaturas, que nos dariam outra massa crítica. E um curso livre de "Direito das Universidades", para todos, que aliás me proporei coordenar quando regressar da licença sabática.
Como prefere passar os tempos livres?
Escrevi um artigo para a revista do SNESup, sindicato de que fui presidente, chamado GAL: "get a life". As exigências desta profissão, hoje, dificilmente nos deixam tempos livres. E olhe que nem todos temos vocação para alcoólicos do trabalho. Não imagina o que é corrigir centenas de exames e ainda avaliar quilos de teses, relatórios, e as bibliografias mastodônticas dos concursos na Universidade, continuando a leccionar e a investigar e a cirandar de júri em júri, de congresso em congresso. Em Direito, não existe quem não publica. Já escrevi quase 70 livros e 300 artigos. Há até quem diga que tenho pacto com o diabo. Devo declarar que trabalho até a dormir, como o químico Kekulé. Se tivesse tempos livres, seria uma pessoa normal: gosto de contemplar a natureza, pintar, ler, escrever, de artes plásticas, cinema e música...e conversar com gente inteligente.
Um livro preferido?
Para a Universidade, deve ler-se "Small World", de David Lodge.
Um disco preferido?
"The Wall", Pink Floyd. Pelo quanto nos deve alertar...
Um prato preferido?
Vim de Atenas há pouco, e delicio-me lá sempre com a salada "Khoriatiki"...
Um filme preferido?
Dos recentes, gostei muito de "Freedom writers", de La Gravanese, que vi no avião a caminho de São Paulo. Uma história de sucesso escolar, baseada na ideia de que a cultura não é postiça: estudamos para sermos melhores, para sermos "nós".

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